Praça das Especiarias | Marraquexe

Cheguei cedo, ainda os souks estavam calmos e a medina dormia. Sentei-me na explanada virada para a praça. Pedi um cafe au lait para completar um magro pequeno-almoço e tirei o livro da mochila.
A praça começa a encher e as bancas de especiarias abrem as portadas. Os vendedores juntam-se, bebericam chá ou café. Ao fundo uma mulher alta, europeia, longo cabelo castanho, passa despercebida enquanto cruza a praça. Sigo-a com o olhar até se deter frente a uma portada que abre com energia. A sua loja, a Bloom Boutique, sobressai no meio das bancas de especiarias, no entanto, não destoa.
Peço um chá para me aquecer naquela fria manhã. A praça fervilha agora cheia de movimento. Burros passam carregados, cruzando-se com um fluxo constante de pessoas. A dezenas de bancas que ladeiam a praça induzem um forte odor a canela, açafrão e cominhos.
Vejo passar à minha frente um kebab de aspecto delicioso. Tenho fome. Penso que depois de comer devia ir dar uma volta por aí... Mas estar aqui sentado, a observar, sentir o sol na cara, é um luxo a que não temos acesso diariamente, no entanto é um luxo grátis. Vivemos cronometrados, com um plano diário cheio de metas a cumprir, lugares onde estar e horas marcadas. Vivemos numa corrida, uma maratona disfarçada de quotidiano. Deixo-me ficar, há sempre algo novo a acontecer à minha frente. Alguém novo na mesa ao lado. Vou metendo conversa - com os jovens empregados do café tento apurar o melhor bar para logo à noite.
Está a ficar frio novamente. Reparo que o sol começa a cair para o horizonte. Vou pagar a conta. O empregado despede-se de mim com um forte abraço e a promessa de nos encontrarmos logo à noite no trendy bairro de Guelin, para ouvir as novidades que passam no Theatro. Olho para o relógio, passaram 7h desde que aqui cheguei...